terça-feira, 7 de agosto de 2012

Tourada, o espetáculo de verdade


A vida é um espetáculo cotidiano que só pode terminar com a morte. Lembra-te que és pó e ao pó tornarás, essa lapidar verdade bíblica ressoa na consciência de todo ser vivente que tem noção da efemeridade da existência. O que fazer diante da indiferença da morte? A vida humana é como o pó que o vento carrega, disse uma vez o poeta. Tão breve é a nossa passagem por entre os homens que não é demais repetir com D. Bosco "transierunt tanquam umbra", tudo passou como uma sombra. Hoje vives e falas entre os vivos, amanhã jazerás morto entre os mortos. No silêncio dos Campos Santos não há mais vaidade, não há mais riqueza, não há mais pobreza. Tudo é indiferente perante os túmulos que apenas lembram a histórias vagas de homens-pó.

E na história de nossa vida o que devemos fazer para merecer uma boa morte? Amar e servir a Deus. Amar e servir o próximo, por amor a Deus. Sentenças lapidares e simples, difíceis de cumprir por si sós. Não é por meios humanos que conseguimos o dom sobrenatural de amar, Deus é quem nos dá força, através da graça, para que possamos cumprir o desiderato do nosso passamento sobre a Terra. Nos ensinam os mártires, os que ardiam de amor, a afirmação da vida diante da injustiça. Morrem por amor à Verdade imutável e universal, morrem como testemunhas da Fé imprescritível que existe desde a origem do mundo. A coragem desses homens nos ensina a desprezar a vida física, quando essa tem que ser desprezada. Nos ensina a nos abraçar com a morte, quando ela paradoxalmente é o único meio de afimar a vida plena. O salário do pecado é a morte, mas Deus, em sua infinita sabedoria, despreza a morte física que tanto aflinge a humanidade. A morte, que é fruto do pecado, é a inimizade para com o Pai celeste, é poder não participar das benesses que Ele nos reservou. O católico, o homem nobre, não pode ver na morte a plenitude do fim, mas o início da verdadeira vida.

Assim temos muito a aprender no espetáculo onde se morre de verdade. A tourada compreendeu bem o drama da existência que persegue a jornada do homem. A morte é um touro bravo e enfurcido que anda no nosso encalço diariamente. A qualquer momento podemos perecer. O toureiro é o nobre que compreendeu a desprezar a morte do corpo para louvar a vida. Como os mártires, eles riem da morte que já não os assusta. Ademais, temos que estar sempre vigilantes para que não sejamos surpreendidos em pecado na hora da nossa morte. O traje de luz que os toureiros envergam são como constantes orações elevadas ao céu. O traje o diferencia de todos os homens, e são as armaduras que garantem que sua morte o encontrá belamente ornado. Assim devemos morrer, ornados da graça de Deus para podermos contemplar a sua face no coro celestial. A elegância e o garbor nos ensinam como devemos enfrentar as dificuldades, sem desespero, com temperança, com fortaleza. A estocada depois de tanta vida, nos ensina a paciência em esperar nossa vitória final. Nesses dois espetáculos, vida e tourada, podemos afirmar nossas virtudes mais sublimes, virtudes dadas por Deus, que através de nós, vence a morte e todo o mal que nos apequena e nos acovarda. 

Por Antônio Mauel
Recife, 11/02/2009

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