Pe.
Marcélo Tenorio
A
tiara papal não é simplesmente um adorno nem tão pouco uma ostentação de poder,
de império e de domínio político. Seu significado é bem mais profundo e grave,
de forma que, hoje em dia, um papa já não pode usá-la sem causar grande
impacto. Se existe um símbolo eclesiástico temido e rejeitado é, justamente, a
tiara papal: os inimigos entendem muito bem o que ela evoca.
A
tiara possui três coroas sobrepostas, conhecida mais como "tríplice
coroa", ou triregnum. Isso quer dizer que o Vigário de Cristo
detém o poder pleno, supremo e absoluto sobre os três reinos:
-a primeira coroa, "Pai dos Reis";
-a segunda coroa, "Pastor Universal";
-a terceira, "Vigário de Jesus Cristo".
O
último papa a fazer uso da tiara foi o Papa Paulo VI, em 1963. Ele usou de uma
tiara nova, presente dos fiéis de Milão, onde foi arcebispo e cardeal.
A
nova tiara de Paulo VI tinha algo de profética. Era essencialmente feia, sem
expressão alguma. Os adornos tinham sido retirados e a tríplice coroa não era
tão visível: a impressão era de que se desmoronava de cima para baixo..Seu
formato não era agradável e, segundo alguns críticos parecia uma "ogiva
nuclear".
No
final da II Sessão do Concílio Vaticano II, em 1963, Paulo VI desceu os degraus
de seu trono, na Basílica de S. Pedro, e depositou a tiara sobre o altar.
Muitos
atribuíram àquela atitude um gesto de humildade.
A
verdade é que, depois disso, a tiara não voltou mais a ser usada, a não ser nas
ornamentações dos brasões papais ou na cabeça da imagem de São Pedro, na basílica
vaticana, pela solenidade dos apóstolos.
Paulo
VI manteve na Constituição Apostólica Romano Pontifici Eligendo (1975),
sobre as Eleições dos Papas, menções à coroação dos seus sucessores:
“Finalmente,
o Pontífice será coroado pelo Cardeal Protodiácono e, dentro de um momento
oportuno, irá tomar posse na Arquibasílica Patriarcal de Latrão, de acordo com
o ritual prescrito".
João
Paulo I não quis a coroação. Houve apenas uma cerimônia chamada de
"inauguração do Sumo Pontífice", embora tenha usado a Sedia
Gestatoria (trono móvel, ricamente adornado, utilizado para
transportar o Papa).
Seu
sucessor, João Paulo II, não só recusou a coroação como retirou qualquer menção
à coroação dos pontífices na Constituição Apostólica de 1996, Universi
Dominici Gregis. Assim ele se pronunciou em sua "Inauguração":
"O
último Papa que foi coroado foi Paulo VI em 1963, mas após a cerimônia de
coroação solene ele nunca usou a tiara novamente e deixou seus sucessores
livres para decidirem a esse respeito. O Papa João Paulo I, cuja memória é tão
viva em nossos corações, não gostaria de usar a tiara, nem o seu sucessor
deseja hoje. Este não é o momento de voltar a uma cerimônia e um objeto
considerado, erradamente, como um símbolo do poder temporal dos papas. Nosso
tempo nos chama, nos exorta, nos obriga a olhar para o Senhor e mergulhar na
meditação humilde e devota sobre o mistério do poder supremo do próprio
Cristo".
O Papa Bento XVI inicia o seu pontificado com um brasão que não mais apresenta a
tiara papal. Em seu lugar uma mitra, embora com três linhas, fazendo uma
discretíssima menção à tríplice coroa.
"O
Santo Padre Bento XVI decidiu não usar mais a tiara no seu brasão oficial
pessoal, mas colocar só uma simples mitra, que não é portanto encimada por uma
pequena esfera e por uma cruz como era a tiara".
Todavia,
inesperadamente - e esse papa sempre nos surpreende -, a tiara papal
reaparece, a la
Gregório XVI, no brasão papal da nova flâmula da sacada da
Basílica de São Pedro .
O
problema central da tiara não são as pedras preciosas nela contidas, pois isso
poderia ser bem resolvido e não é a questão fundamental. O antigo argumento de
que a Igreja deveria "vender" tudo que possui e dar aos pobres,
"porque é muito rica", já não se encaixa mais nas mentes
inteligentes. Tudo ali é patrimônio da humanidade e sabe-se que mais gastos
provoca que rentabilidade. Basta pensarmos no valor incalculável da restauração
de um pequeno pedaço da Capela Sistina e em quem deve pagar essa conta.
Logo,
a questão da tiara é teológica! Ela representa o império de Nosso Senhor Jesus
Cristo sobre a humanidade inteira: sobre a Igreja, sobre os Estados, sobre toda
a sociedade. Eis aqui o tríplice reino, o tríplice múnus.
Era
comum de se ver nas belas igrejas antigas e centenárias, como um marco da
passagem de um século para outro, uma cruz, colocada na parede da Igreja, no
pórtico de entrada com as seguintes frases: “Cristo vence - Reina - Impera. A
Ele o Poder, a Glória, o Domínio e o Império, pelos Séculos dos Séculos”.
A
supremacia de Cristo Rei deve resplandecer na face da Igreja e, sobretudo, na
pessoa de seu Vigário, o Papa.
A
tiara papal na verdade anuncia a Supremacia de Deus sobre os três reinos:
Igreja, Estado e Sociedade.
Ao
iniciar um novo tempo, a modernidade, onde a “deusa razão” inaugura a
época do antropocentrismo, do homem livre, do livre pensamento, da libertação
das cadeias de todo e qualquer dogma ou verdade absoluta; onde o triunfo da
Revolução Francesa, com seus princípios maçônicos, é amplamente assumido em
todas, sobretudo na filosofia e teologia, devastando tudo e destruindo por toda
parte o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, a tiara simplificada,
lisa, sem adornos, oval, de Paulo VI, nos anuncia o “desmoronamento” da Igreja
pelo que viria depois...
E
hoje, assistimos a toda essa derrocada que começou com a separação oficial da
Igreja e do Estado.
Ora,
o Estado existe pelas pessoas que o compõem, de maneira que a ideia da
laicidade do Estado é, no mínimo, absurda, visto que, sendo a Lei Divina
superior à lei humana positiva, esta existe, com legitimidade, apenas quando em
perfeita conformidade e submissa à Lei Divina.
Incentivando
a laicidade do Estado, colaboramos com a destronização de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Rei e Senhor dos Exércitos e, ao invés de servirmos à Verdade plena,
que sempre aponta à Verdade Católica, terminamos como humanistas e doutores do
"amor fraterno universal", oco, visto que desprovido da perfeita
caridade que somente existe fundamentada na Verdade, que é Cristo.
A
laicidade gera a pluralidade religiosa, que por sua vez, gera o subjetivismo
religioso, pai do indiferentismo e avô do ateísmo prático.
Leão
XIII, considerava esta questão de extrema importância, tanto que se dedicou ao
assunto em sua
Encíclica "Immortale Dei":
"Deus
dividiu o governo de toda sociedade humana entre dois poderes: o eclesiástico e
o civil; o primeiro, que cuida das coisas divinas e o outro que cuida das
humanas. Cada qual na sua esfera é soberano, cada um tem seus limites
perfeitamente determinados e traçados conforme a sua natureza e seu fim
determinado. Ha assim como que uma esfera de atuação onde cada um exerce sua
ação 'jure' próprio".
E
ainda:
"Gregório
XVI, em sua
Carta-Encíclica "Mirare Vos", de 15 de agosto
de 1832, (...) sobre a separação da Igreja e do Estado, dizia o seguinte: 'Não
poderíamos esperar situação mais favorável para a Religião e o Estado, se
atendêssemos os desejos daqueles que anseiam por separar a Igreja do Estado e
romper a concórdia mútua entre o sacerdócio e o império; pois se vê quanto os
que gostam de uma liberdade desenfreada temem esta concórdia, pois ela sempre
produziu bons e saudáveis frutos para a causa eclesiástica e civil".
A
laicização do Estado destrona Nosso Senhor. As leis já não se pautam mais na
Lei divina, a Igreja, possuidora da Verdade plena e com vinte séculos de
existência, é posta ao lado das seitas mais bizarras: Cristo e Baal em pé de
igualdade.
Um
exemplo claro acontece em nosso dias: a aprovação da lei nazista de extermínio
de indefesos. Na fala dos ministros estava estampada essa idéia de calar a
voz da Igreja, neutralizá-la. O sucesso do STF advém de outro: o princípio
maçônico de igualdade, liberdade e fraternidade.
Não
se pode negar a grande dificuldade que a Igreja enfrenta hoje diante de um
mundo que odeia a Verdade e que não aceita mais o "jugo" de Deus.
Como
insistir no Reinado Social de Nosso Senhor e na Supremacia da Verdade e da Fé?
Como fazer com que Ele reine, quando seu trono foi retirado do Estado e, em
muitos casos, com beneplácitos eclesiástico?
Era
um cardeal quem dizia: "O reinado de Nosso Senhor é praticamente
impossível em nossos dias!" - uma afirmação terrível!
"Eu
sou Rei e para isso vim ao mundo!", retrucou Jesus a Pilatos.
O
Reinado Social de Nosso Senhor é vital! A Europa começa a despencar moralmente,
numa crise jamais vista, justamente porque Nosso Senhor foi retirado de seu
trono. E as consequências são vistas a olho nu: famílias acabadas, jovens
perdidos, sem sentido algum, liberação e supremacia das vontades mais
diabólicas do homem. Eis a separação de todo o equilíbrio social, quando se
exclui Nosso Senhor Jesus Cristo.
A
humanidade caminhando para um paganismo prático encontrará, no fim da linha,
apenas o caos, o nada, o "não ser".
Bento
XVI, em sete anos de pontificado, tem surpreendido, positivamente, em muitos
pontos, sobretudo na reafirmação de valores já esquecidos pela sociedade
cristã. Mesmo pagando um alto preço, não tem se omitido em relação à
proclamação da Verdade sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo.
Há
pouco tempo, Sua Santidade recebeu no México um presente típico, um chapéu e,
imediatamente, o pôs sobre a cabeça. Isto também fizera noutras vezes, com
outros estilos. Tempos atrás recebeu de presente dos católicos húngaros uma
bela tiara, mas ponderou, olhou, olhou, agradeceu e... a entregou ao secretário.
No
auge das invasões de terra pelo MST, aqui, nas terras tupiniquins, Lula pôs em
sua cabeça um boné do movimento vermelho. Como falou aquele boné em sua cabeça!
Falou-nos muito mais que suas atrapalhadas palavras.
Como
ressoou alto aquele gesto de Paulo VI, retirando de sua cabeça a tiara...
Como
ecoaria "urbi et orbi" a tiara de volta à cabeça do Vigário de Cristo?
Nós
sabemos como.
Esperemos,
pois não está tão distante: ela já se encontra em suas mãos.
Como
tenho tanta certeza?
As
fontes em Roma são falantes..jorram para todos os lados...
Più non ti dico… pìu non ti dico!
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