domingo, 4 de agosto de 2013

O sacerdócio - São Pedro Julião Eymard

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Devo abraçar a Cruz de Jesus Cristo,
nela me crucificar e querer ser crucificado

por Deus e pelos homens,

até morrer por amor a Ele.”

(São Pedro Julião Eymard)

O Sacerdócio é a dignidade maior que há sobre a terra. Supera a dos reis. Seu império se exerce sobre as almas. Suas armas são espirituais. Seus dons são divinos. Sua glória, seu poder, os do próprio Jesus Cristo.

O Sacerdócio gera as almas à Graça e à Vida Eterna. Possui as chaves do Céu e do Inferno. Tem todo poder até sobre Jesus Cristo, a quem faz descer cada dia sobre o Altar, e de quem recebe todo o Poder gracioso. Pode perdoar qualquer pecado, pois Deus se comprometeu a ratificar no Céu a sentença dada na Terra.

Poder formidável! Poder divino que ordena ao próprio Deus!

O Anjo é servo do Sacerdote. O demônio treme em sua presença. A Terra considera-o como seu salvador enquanto o Céu nele vê o príncipe que lhe conquista Eleitos. Jesus Cristo tornou-o num outro Cristo. É um Deus por participação. É Jesus Cristo operando.

O Sacerdócio é o estado mais santo. E a vida deve estar em relação com a dignidade.

Quão pura deve ser a vida do padre! Mais pura, afirma São João Crisóstomo, que os raios do sol, uma vez que deve ser um mesmo sol. “Vos estis lux mundi” (Mt 5,14).

Mais incorruptível que o sal, que serve para preservar outras substâncias da corrupção. “Vos estis sal terrae” (Mt 5,13). Mais casto que as virgens. Anjo num corpo mortal, morto já a toda concupiscência.

Quão humilde! Sua humildade deve igualar a sua dignidade. Tudo quanto o eleva vem do próprio Deus, mas tudo quanto o rebaixa vem dele mesmo. Por si só é pecado, miséria, nada.

Quão caridosa! Sua caridade deve ser tão grande quanto o próprio Deus, que não o fez senão o Seu ministro de caridade e de misericórdia na terra.

Quão doce! Sua doçura deve ser a do seu bom Mestre, a quem os povos chamavam de a suavidade, a quem as crianças amavam como a mesma Bondade.

O  sacerdote deve ser a imagem viva de Jesus Cristo, até poder dizer a todos, com São Paulo: “Imitatores mei estote, sicut et ego Christi” (I Cor 11,1).

O Sacerdócio é o ministério mais glorioso para Deus

1º – O sacerdote completa a criação divina, elevando o homem a Deus e refazendo-o à sua imagem e semelhança, maculada e desnaturadas pelo pecado. “Creati in Christo Jesu” (Ef 2,10). Pelo seu ministério somos recriados em Jesus Cristo.

Ergue as ruínas desse edifício magnifíco e fá-lo numa obra-prima de Graça, num objeto em que Deus se há de comprazer. O homem batizado torna-se novamente filho de Deus, enquanto o homem santificado se torna um membro honoroso de Jesus Cristo, rei espiritual do mundo.

2º – O sacerdote prolonga a missão do Salvador na Terra.

No Altar continua e remata o Sacrifício do Calvário, aplicando às almas os frutos divinos da salvação.

No confessionário, purifica-as no Sangue de Jesus aplicando às almas os frutos divinos da salvação.

No púlpito, publica a Sua Verdade, o Seu Evangelho de amor. Reflete nas almas os raios desse Sol divino que ilumina o homem de boa vontade, fecundando-o.

Aos pés do Tabernáculo, adora o seu Deus oculto, por amor, como os Anjos O adoram em sua Glória. Aí ora pelo seu povo. É o mediador poderoso entre Deus e o mísero pecador.

No mundo, o sacerdote é o amigo do pobre, consolador nato do aflito; é o homem de Deus. Quão bela é a sua missão, mas quão santo deverá ser para poder servir dignamente a Deus e não se perder, como o anjo, pelo orgulho de sua dignidade!

E como adquirir essa santidade?

Por Jesus Cristo, que o ama e lhe prodigaliza as Suas Graças, os Seus favores.

A águia voa com mais força e mais facilidade que o passarinho, pois sua força está nas suas asas. A do sacerdote está no amor régio de Jesus Cristo, seu Mestre.

O Espírito de Jesus no Sacerdote

O sacerdote deve viver do Espírito de Jesus. “Qui adhaeret Domino, unus spiritus est” (I Cor 6,17). “Si quis spiritum Christi non habet, hic non est ejus” (Rom 8,9). Ora, o espírito de Jesus é um espírito de verdade e de amor.

Espírito de verdade

Jesus Cristo veio, qual luz poderosa e divina, dissipar as trevas do erro. A todos pregou a Verdade de que foi testemunha fiel, até derramar o Seu próprio Sangue. É a Verdade. “Ad hoc veni in mundum, ut testimonium perhibeam veritate” (Jo 18,37).

Eis a regra, a missão, a coroa do Sacerdote – a minha por conseguinte. Devo viver da Verdade de Jesus Cristo – regra invariável de minha vida. “Vos estis lux mundi” (Mt 5,14). A verdade é toda a minha vida. Dela devo me alimentar cada dia pela meditação, pelo estudo sagrado.

Jesus Cristo fez-me apóstolo, defensor, testemunho desta mesma Verdade, e oxalá, talvez mártir! Jamais hei de me envergonhar da Verdade de Cristo. Devo, pelo contrário, intrepidamente, anunciá-la, pura e forte, aos grandes e pequenos, na paz e na guerra.Eritis mihi testes” (At 1,8).

A Verdade é minha espada de dois gumes. É o centro de realeza do meu Sacerdócio. Para lhe ser sempre fiel, é mister que a ame, dela viva, disposto se preciso for a morrer por ela.

Espírito de amor

Jesus é o Amor divino humanizado, tornado visível e sensível.

1º – O Amor de Jesus é cheio de doçura e misercórdia. “Ecde Rex tuus venit tibi mansuetus” (Mt 21,5). “Discite a me, quia mitis sum, et humilis corde” (Mt 11,29).

Ó quão doce, quão paciente foi esse amor Amor de Jesus para comigo, enquanto eu O ofendia, enquanto não O amava! Quão caridoso, quão compassivo para comigo, que me desgraçara pela minha própria culpa afastando-me dele. Quão paternal, quão honroso, posso dizer, foi o meu perdão!

Assim também devo proceder em relação ao próximo e nada mais farei do que aquilo que Jesus já fez para mim, aquilo que me pede em troca de gratidão.

2º – O Amor de Jesus é generoso. Dá-me tudo quanto tem – Verdade, Graça, Glória, Vida e Morte, nada se reservando para Si. Dá-me o Santíssimo Sacramento tudo quanto É.

Que Amor!

Quem me ama assim?

Que Lhe posso eu dar?

Dar-Lhe-ei tudo quanto tenho. Dar-Lhe-ei a mim mesmo. “Dilectus meus mihi, et ego illi!” (Ct 2,16).

3º – A Amor de Jesus é forte como a morte: “Fortis est ut mors dilectio” (Ct8,6). Em prova disto, quis sofrer fome, sede, pobreza, desprezo, humilhação por mim. Quis passar pelo sofrimento, dar-me todo o seu Sangue, morrer na Cruz por entre o abandono, as humilhações, os desprezos de todo o Seu povo.

Eu era o fim do Seu Amor!Dilexit me, et tradidit semetipsum pro me” (Gl 2,20). Devo, por conseguinte, também sofrer pelo amor de Jesus, se Lhe quiser provar que o meu é desinteressado, e verdadeiro. Devo abraçar a Cruz de Jesus Cristo, nela me crucificar e querer ser crucificado por Deus e pelos homens, até morrer por amor a Ele.

Quis nos separabit a caritate Christi?… Sed in his omnibus superamus propter eum, qui dilexit nos!” (Rm 8,35.37).

(Excertos do livro: A Divina Eucaristia -  Volume III – São Pedro Julião Eymard)

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